"Não sei se voltaria a fazer a mesma viagem"
Maria Virgínia Passos, 61 anos, foi libertada na terça-feira da cadeia feminina de Tires, onde esteve detida desde o dia 24 de Outubro, quando chegou a Portugal transferida da Venezuela. Cumpriu seis anos por tráfico de droga numa cadeia a sul de Caracas, com as outras duas "Marias de Arraiolos" (ver caixa).
Recebeu ontem os jornalistas em Lisboa. O DN quis saber se hoje voltaria a fazer a mesma viagem à Venezuela. Aprumada no seu conjunto saia e casaco vermelhos, respondeu secamente: "Não sei se faria a mesma viagem. Dependeria das condições em que fosse convidada."
Já irritada com uma entrevista prévia que tinha dado a um canal de televisão e na qual foi confrontada com o conhecimento que teria do conteúdo das malas (400 quilos de cocaína), Maria Virgínia Passos usou do discurso da anti- ga advogada que em tempos foi. "Não foi feita prova em juízo da minha culpabilidade", atirou. Quanto à deslocação com as outras duas "Marias" no avião fretado à Air Luxor, descreveu-a apenas como "uma viagem".
Confrontada pelo DN com a má relação que, segundo o seu advogado, passou a ter com Maria Antonieta Liz desde que esta contou que foi ao engano na viagem, Maria Virgínia preferiu não dizer uma palavra. As outras duas são agora "pessoas que viajaram juntas". São passado amargo.
O seu advogado, Carlos Paulo, insistiu que a cliente cumpriu três meses a mais de prisão em Tires e que isso foi uma "violação da legalidade". Maria Virgínia já não quer saber disso. "Não vou processar o Estado português. Houve um processo administrativo que seguiu os seus trâmites", disse.
Sobre o Instituto Nacional de Orientação Feminina de Los Teques, a sul de Caracas, onde passou seis anos encarcerada, só tem elogios a fazer. "A prisão em Caracas foi muito mais fácil para mim do que em Tires (Cascais). É um regime mais aberto e mais livre do que em Tires, sobretudo para quem trabalha na cadeia e tenha bom comportamento, como eu". O regresso a Arraiolos "foi normal", contou, sem se alongar sobre a reacção da comunidade ao seu regresso. "Quero voltar a trabalhar."